Os rostos e os rastos que (n)os ligam

A grande-história e a pequena-história têm formas muito interessante de se relacionarem, e muitas vezes é um singelo “fio” que puxa pela meada, até percebermos quantas pessoas e lugares diferentes estão envolvidos. Este será por isso um post invulgarmente longo, e também invulgarmente pessoal, feito de gratidão e de maravilhamento. Pois, também na produção da ciência (conhecimento) há a felicidade, de vez em quando, de sentir em primeira mão essa conexão entre as vontades de pessoas espantosas.

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Num dos nossos Clubes de Leituras do Oriente (o de Novembro de 2017, que podem revisitar aqui) tratámos o livro “O Samurai”, de Shusaku Endo. A obra foi escolhida depois de, numa edição anterior do Clube, termos trabalhado o livro “Silêncio”, que foi escrito antes de “O Samurai” e que, apesar de ficar famoso em Portugal depois do filme, continua pouco compreendido no geral. No livro “O Samurai”, a personagem principal é modelada a partir dos eventos da vida de uma personagem histórica real: Hasekura Tsunenaga. Este vassalo do Senhor Feudal Date Masamune (o daimyou de Sendai) e toda a sua comitiva estiveram efectivamente envolvidos numa daquelas viagens épicas da história da humanidade. E, ao prepararmos os conteúdos para essa sessão, um outro livro e um outro conjunto de pessoas veio ao encontro deste Projecto Cultural e Pedagógico também. O que é espantoso, e ainda mais por ser autêntico e actual, é que esse conjunto de pessoas são indivíduos de hoje, numa terra a umas meras 5 horas de carro, e que são directa e geneticamente relacionados com os eventos que inspiraram Sgusaku Endo a escrever “O Samurai”. Aliás, se o escritor tivesse tido disto conhecimento creio que teria escrito mais um livro…

Quando a “Embaixada Keichou” finalmente chegou a terras de Espanha (para se informar da viagem completa consulte aqui) , em Outubro de 1614, foi numa pequena povoação chamada Coria del Rio que estacionaram durante alguns dias, antes de uma entrada formal na cidade de Sevilha. E é precisamente em Coria del Rio que, nos anos 80 do século XX, começa a tomar forma um movimento de associativismo cívico – primeiro muito informal e depois com cada vez mais apoios do município, entre todos os habitantes que têm no seu nome de família o apelido “Japón”. Sim, com efeito a pequena localidade que dava entrada aos meandros do rio (via obrigatória para chegar a Sevilha), desenvolveu-se durante 400 anos sem perder a ligação àquela comitiva: os seus descendentes sempre mantiveram o sobrenome “Japón”.

A Associação que entretanto de formou estima que existam mais de 1000 pessoas com “Japón” até ao 3º nível de parentesco, e existem registadas mais de 500 com “Japón” em nome próprio ou num dos pais. A abundância de pessoas que têm “Japón” da parte do pai e também da parte da mãe comprova ainda mais o facto de, em Coria del Rio, existir uma circunstância peculiar de ascendência japonesa que se foi mantendo. Do ponto de vista da identidade cultural dos habitantes de Coria del Rio isso também é notório, desde já porque a sede de governo local tem a bandeira do Japão hasteada, e também porque há muitos outros marcadores do espaço público e eventos culturais que remetem para o Japão. Mas tudo isto foi um processo, longo aliás, já que dura há pelo menos 30 anos de forma organizada. E, mais recentemente, em 2014, foi realizado um projecto artístico, focado na fotografia/retrato, para documentar todas as pessoas com o apelido “Japón”.

Essa exposição fotográfica poderia ter ficado apenas em Coria del Rio, ou quanto muito ter chegado em forma de relato ao Japão, já que há muitos japoneses que visitam a localidade espanhola devido a esta história que os liga. Mas, também neste caso, a sinergia não cessou. A energia desta viagem épica do século XVII ainda se sente no modo como os encontros se multiplicam e as iniciativas se sucedem.

Na bela cidade alentejana de Vila Viçosa pode também sentir-se o impacto da passagem de uma embaixada japonesa daquele período histórico, que aliás precedeu a de Kenchou a Espanha. No caso da Embaixada Tenshou – a que passou por Portugal – as circunstâncias foram muito diferentes, e não houve lugar a descendência que se saiba. Contudo, tal como no caso de Coria del Rio, estas embaixadas tiveram um grande impacto e deixaram vestígios documentais que, já no século XX/XXI, vieram a ser “redescobertos” por intelectuais interessados e de visão larga. Assim, os livros produzidos, habilmente redigidos e divulgados junto da população em geral, permitem aos leitores de hoje, e sobretudo aos habitantes destas localidades, ter uma impressão directa do papel que o lugar onde vivem representou na chamada “Primeira Globalização”.

A exposição de fotografias de Coria del Rio chegou ontem a Vila Viçosa, e foi inaugurada com um evento muitíssimo bem organizado e extraordinariamente relevante nas relações entre a Península Ibérica e o Japão. A pequena sala de rés-do-chão do Cine-Teatro Florbela Espanca em Vila Viçosa foi efectivamente o lugar onde se realizou o evento cultural, pedagógico e académico mais significativo do último ano no que diz respeito às relações de diplomacia informal ibero-nipónicas, embora a humildade dos seus protagonistas e a singeleza dos seus organizadores tenham possivelmente distraído o público desse facto.

 

A Exposição “El r@stro del samurái” poderá visitar-se todos os dias da semana e do fim-de-semana, das 14h às 18h, gratuitamente. O catálogo da exposição está também disponível para venda, tendo o PVP de 15 euros, e os fundos revertem para a Associação de habitantes de Coria del Rio com o sobrenome Japón, sendo esses fundos actualmente usados para financiar investigação e promover eventos de interculturalidade.

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Tiago Salgueiro, autor do livro “Do Japão para o Alentejo”, sobre a passagem da Embaixada Tenshou por Vila Viçosa, aqui a apresentar a documentação do arquivo da Fundação Casa de Bragança.

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Professor Doutor Juan Manuel Suárez Japón, membro de grande relevo na Associação Hasekura, aqui a apresentar as circunstâncias únicas de Coria del Rio no que diz respeito à sua relação com o Japão e os japoneses. Com efeito, devido às publicações desta Associação, as quais têm sido feitas em modo bilingue (também japonês), verificou-se um aumento do fluxo de visitantes japoneses, algo que estreitou significativamente as relações internacionais da localidade e trouxe grande satisfação aos “japónes” de Coria.

Convidamos todos os seguidores deste blog a conhecer esta exposição e também a realizar a visita ao Paço Ducal de Vila Viçosa, seguindo os passos da embaixada japonesa que o visitou há quase meio milénio. O estabelecimento de uma geminação entre o município de Coria del Rio e o de Vila Viçosa fazem prever um futuro brilhante para a cooperação entre estas duas localidades no que diz respeito à gestão do património cultural relacionado com o Japão – que é o factor que mais as aproxima – pelo que as relações ibero-nipónicas podem ter aqui um novo fôlego. Nós esperamos que sim, e teremos muito gosto em documentar as próximas iniciativas!

(Para efeitos jornalísticos, se desejar aceder a mais fotos e vídeos deste evento, queira por favor contactar umlongoveraonojapao@gmail.com)

 

 

Beppu 2019 alojamento

O programa de residências artísticas Beppu 2019 permite aos artistas selecionados residir durante 20 dias na pequena cidade costeira de Beppu, localizada na prefeitura de Oita.

Durante esse período de tempo, para além de quarto, acesso a termas (onsen) e vários tours e workshops, têm espaço para trabalhar nos seus projectos e encontros com artistas locais.

As fotografias que se seguem ilustram as condições de estadia (foram tiradas exactamente onde os artistas vão ficar).

 

Não se incluem aqui as fotos dos ateliers e outros espaços de trabalho, pois esses dependerão das necessidades dos artistas selecionados.

Este programa não tem fins llucrativos. A organização não carece de honorários.

Para mais informações solicite o documento com as condições de candidatura através de e-mail: umlongoveraonojapao@gmail.com.

Arte & Música

Artistas plásticos, músicos/cantores, e outros criadores de arte interessados em residências artísticas enquadradas em planos colaborativos no Japão contactem umlongoveraonojapao@gmail.com.

Consulte as condições e preços aqui:

 Beppu 2019 condições

A organização em Portugal representa a NPO (Non Profit Organization) Midori no Mori, dedicada a revitalizar áreas rurais/de montanha e a realizar actividades ao ar livre com forte componente de contacto com a Natureza. Pode consultar o Facebook desta NPO abaixo indicado (só em japonês)

https://m.facebook.com/midorinomori.p/

Este programa destina-se a artistas com currículo relevante em arte & música com elementos de folquelore/cultura ancestral/etnologia/natureza e paisagem.

Nacionalidade portuguesa (ou residência fixa em Portugal), ou nacionalidade japonesa.

Preferencialmente com intenção de desenvolvimento de projetos em colaboração com artistas japoneses dessa mesma área.

A organização da viagem, alojamento, actividades e outra programação associada não tem fins comerciais. Os custos serão partilhados pelos participantes.

Com serviço de curadoria incluído e garantia de exposição/performance/espectáculo.

Residência artística a realizar entre 21 de Fevereiro e 12 de Março de 2019.

Com possibilidade de estender a estadia no Japão e integrar programa cultural e turístico na segunda quinzena de Março.

Apenas 6 lugares disponíveis para artistas.

Encerramento de candidaturas a 10 de Dezembro.

Selecção depende do envio de todos os elementos acima pedidos (ver doc PDF) e também entrevista.

Aberto a acompanhantes, na qualidade de “turismo”. (Com possibilidade de excursões e tours.)

Komorebi

Arashiyama - Kyoto - photo by Ines Matos (C)

O bosque de bambu em Arashiyama, Kyoto.

Foto original de Inês Carvalho Matos. Todos os direitos reservados. 

 

No próximo sábado, 6 de Outubro, às 18:30h, inauguramos uma pequena mostra fotográfica no Atlas Hostel Leiria.

Este espaço de alojamento e cultura convidou-nos a enriquecer a decoração do bar e salas comuns com fotografias do Japão, convite esse que aceitámos com muito gosto.

A exposição, intitulada “Komorebi”, consiste num conjunto de instantâneos sem edição/pós-produção, e propõe regressar à experiência original da viagem: a curiosidade.

Komorebi, que também é o título de uma das fotografias, é uma expressão japonesa com difícil correspondência para a língua portuguesa: o termo designa a impressão particular da luz do sol a ser filtrada pelas folhas das árvores, criando uma penumbra que renova os sentidos e por isso tem impacto tanto no corpo como na alma.

As fotografias estarão expostas durante, pelo menos, todo o mês de Outubro, mas apenas no sábado existirá oportunidade de conversar com a autora.

 

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Mostra de Sumi-e

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Exposição

Durante o mês de Março, na Cafetaria & Galeria do Instituto Universitário Justiça e Paz, poderá ver os trabalhos da professora e artista plástica Paula Walker, desde estudos a obras finais, e também alguns trabalhos dos alunos que têm aulas de sumi-e em Coimbra. Através desta exposição procuramos mostrar à comunidade académica e a todos os visitantes deste espaço o mundo do sumi-e de forma acessível e pedagógica.

Visitas Guiadas em 15 min.

Todas as sextas-feiras deste mês, das 16:15h às 16:30h, Paula Walker e também a curadora da exposição – Inês Matos – estarão disponíveis para responder a todas as suas questões e orientar a sua apreciação dos trabalhos expostos. Gratuito e sem necessidade de pré-inscrição.

O primeiro Japonic!

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Entrada Livre

Local: Flores do Cabo, Estrada dos Capuchos, 839, Pé-da-Serra, Colares, 2705-255 Sintra

Informações e inscrições em actividades: japonic.portugal@gmail.com

Exposição ” Silêncio em Alto Volume”, por colectivo de artistas: António João Saraiva, Beniko Tanaka, João Carvalho, Mami Higuchi e Naohiro.

Mercadinho Japonês das 15h às 19h

Workshop Cerimonia do Chá (com pré-inscrição) das 15h às 16h – 20 eur.

Workshops para crianças, a partir de 2 eur.: Caligrafia de Caracteres Japoneses, Origami, Máscaras de Papel

Para toda a família: Teatro de papel, estilo Kamishibai, às 17h – 3 eur.

Concerto do duo “Dongara” das 19h às 20h

Entrada livre com pré-inscrição em info@floresdocabo.pt

Duo de flauta e percussão do estilo Edo-bayashi, baseado no improviso, para apresentar
uma fusão de música tradicional japonesa com música ocidental contemporânea.

 

 

 

 

12 meses convosco…

Foi em Junho de 2016, com a Pré-Festa do Japão em Coimbra, que arrancámos a sério com o projeto de estudos japoneses em Portugal, tendo finalmente uma Casa que nos acolhesse e um plano pedagógico para todo o ano lectivo que se avizinhava. Durante o  Verão oferecemos os primeiros cursos, preparámos uma exposição interativa e em Setembro começaram a funcionar as aulas. Pela primeira vez na longa história da relação entre Portugal e o Japão, de forma consistente e com ritmo certo semanal, um grupo de pessoas juntou-se para aprender sobre o Japão e a cultura japonesa, todas as sextas-feiras, muitas vezes com convidados japoneses ou proporcionando o encontro de alunos japoneses com alunos portugueses.  Mais de nove meses disto e continuamos, todas as sextas-feiras. Veja o que fizemos juntos neste ano lectivo, e junte-se a nós para os cursos de Verão!