Os dias melhores que virão

O ano de 2020 trouxe-nos muitos desafios, sobretudo para quem, por razões pessoais ou profissionais, foi directamente afectado pela pandemia. Para nós, isso significou fazer um STOP inesperado a vários projectos em curso e aos intercâmbios entre Portugal e o Japão, algo que nos afectou bastante porque levaram muitos anos a consolidar. Mas, felizmente, foi um STOP temporário. Com os planos de contingência em curso, a vacinação a começar e os diversos governos a anunciar a expectativa de reabertura de fronteiras para o Verão, podemos finalmente começar a pensar nos melhores dias que virão. Temos plena consciência que tudo o que esteja ligado a uma circulação intercontinental terá ainda limitações durante os próximos meses e que, mesmo marcando para o futuro, é preciso acautelar a eventualidade de cancelamentos e adiamentos. Aprendemos com 2020 e estamos a aprender com 2021. Escolhemos focar-nos na esperança, sem descurar o realismo, ter em vista a nossa missão, sem esquecer a empatia com as vossas inseguranças (mais do que compreensíveis). Por isso, chegado este momento, apresentamos a versão possível da nossa viagem anual ao Japão para 2021. Este ano, bastante diferente, sendo um recomeço cauteloso às nossas sugestões de imersão nipónica.

Como sempre, os nossos programas de visita ao Japão são experiências de imersão cultural e somos nós que as planeamos e realizamos, sem comprar viagens a agências, sem ter intermediários comerciais, e portanto canalizando o esforço do investimento que os viajantes fazem em experiências concretas, visitas significativas, e serviços com boa relação qualidade-preço. O valor indicado no final é uma estimativa de despesas para os pontos que estão apresentados como parte integrante do programa. Alguns elementos de uma viagem desta natureza, tais como os voos intercontinentais por exemplo, foram considerados pelos seus valores médios e portanto poderão variar se forem adquiridos com menos de 6 meses de antecedência ou se os preçários das companhias aéreas mudarem muito nos próximos tempos.

Este ano introduzimos algumas alterações que nos pareceram de extrema necessidade, como por exemplo o facto de as dormidas serem sempre em quartos privados (single) com WC integrado, sem nenhuma partilha de espaços de descanso ou higiene. Sim, isso torna impossível ter valores tão baixos de alojamento como quando ficávamos em alojamentos partilhados, e também não permite ficar em ryokans onde os vários futons se estendem na mesma divisão de tatami. Mas, por outro lado, proporciona conforto, privacidade, e sobretudo muito menor probabilidade de afectar a saúde de cada um dos viajantes. Igualmente motivados por recomendações de saúde pública, incluímos a obrigatoriedade de um seguro de saúde em viagem (não é só um seguro “de viagem”) e portanto no orçamento de despesa prevista já está esse valor médio. Não têm de o fazer com uma companhia específica, nós recomendamos várias, mas sem prova de seguro feito não se pode incluir na viagem.

Outra modificação considerável em relação ao que era habitual é o facto de o grupo se constituir por 5 pessoas, nem mais nem menos (em vez de 10 como nos anos anteriores). Iremos realizar a viagem se tivermos 5 pessoas que reúnam as condições que se seguem: concordarem com todos os termos do programa e do funcionamento da viagem, serem membros do Clube Privado do Projecto Cultural e Pedagógico, participarem nas acções de formação e preparação anteriores à visita ao Japão e demonstrarem estar aptos para integrar o grupo. Esta não é uma viagem de turismo, e por isso não é por desejarem integrar o programa que iremos admitir uma pessoa. Este ano, mais do que nunca, vamos insistir na necessidade de o potencial viajante demonstrar adequação aos objectivos da experiência e concordância com os termos da sua realização.

Naturalmente, a realização deste programa depende essencialmente de três pontos: o governo do Japão reabrir as suas fronteiras para os estrangeiros com visto de curta duração (no qual se incluí o de turismo), não existir a obrigatoriedade de uma quarentena à chegada, estas duas condições estarem asseguradas até (no máximo) ao mês de Setembro.

O nosso programa de visita ao Japão deste ano começa a 29 de Outubro, com voo a partir de Lisboa. O regresso a Portugal será a 18 de Novembro. Este é um programa de 21 dias!

Os locais de visita serão: Nagasaki, Karatsu, Fukuoka, Osaka, Kyoto, Nara, Fuji, Kamakura, Yokohama e Tokyo.

Ao longo do percurso teremos oportunidade de assistir a um Matsuri (Festival), realizar uma formação sobre Cerimónia do Chá e Doces Wagashi, desfrutar de onsen (termas), ficar uma noite num “capsule-hotel”, fazer caminhadas em florestas coloridas pela folhagem vermelha, passear no sopé do monte Fuji, conhecer ao pormenor o impacto da presença portuguesa no Japão antigo, aprofundar temas já trabalhados nos nossos cursos de Análise Social do Japão Contemporâneo, visitar alguns dos monumentos mais emblemáticos do património cultural japonês e, sempre que possível, beneficiar do contacto próximo com os nossos parceiros (locais). Devido aos temas abordados e às características de esforço físico de alguns dos percursos, consideramos que o mais adequado é que os participantes tenham pelo menos 20 anos de idade e, independentemente da maturidade, se considerem em boa forma física e com grande capacidade de adaptação.

Para uma despesa prevista de cinco mil euros por pessoa, levámos em consideração:

  • o voo internacional de ida e volta;
  • seguro de saúde em viagem;
  • JR pass;
  • wifi;
  • transportes locais e outros;
  • visitas-guiadas/workshops/bilhetes de entrada em atracções;
  • acompanhamento e conteúdos pedagógicos em língua portuguesa durante toda a viagem;
  • alojamento com pequeno-almoço (nem sempre servido no alojamento, mas sempre incluído).

Não está prevista nesta estimativa a despesa das refeições principais (almoço e jantar), as quais serão sempre da escolha de cada um (podemos dar recomendações apenas), bem como as despesas que se façam em “tempos livres” (fora dos tempos de percurso acompanhado), compras, etc.

O primeiro passo para poder desfrutar desta oportunidade de mergulhar nos Estudos Japoneses in situ e conhecer o Japão real, num programa de visita de estudo e lazer, é juntar-se ao Clube Privado do Projecto Cultural e Pedagógico Japão e Portugal. Terá ao seu dispor todas as orientações necessárias para reserva de voos e demais serviços, directamente na sua origem, sem intermediários e sem qualquer tarifa pelos serviços de consultoria personalizada para o planeamento de viagem (que são dados a título gratuito por via do Projecto Cultural e Pedagógico). Por uma questão de eficiência logística, os alojamentos e algumas outras marcações e reservas serão mesmo feitas por nós.

Já sabe, pode contactar-nos por email: umlongoveraonojapao@gmail.com ; ou através da nossa página de facebook, em nome do Projecto Cultural e Pedagógico Japão & Portugal.

Primavera 2020: novos planos!

Monte Bandai na Primavera

Na Primavera de 2020 o Japão estará a mil! Irá decorrer a passagem da Tocha Olímpica pelos principais pontos turísticos (o que vai afectar um pouco os habituais fluxos de visitantes), prevê-se que a época da floração das Sakura atinja novos recordes históricos (2018 e 2019 atingiram novos recortes, com aumentos de um ano para o outro na ordem dos 30%), e por tudo isso pensámos que já era hora de fazer um Plano de Viagem que fugisse um pouco à confusão. O Japão tem muitos encantos e muitas oportunidades de realização de um percurso temático interessante, sem prescindir em nada quanto à autenticidade da experiência. O que é preciso é saber onde ir, como ir, o que fazer, e ter o suporte de quem sabe como mostrar o Japão real a quem o quer conhecer. E é precisamente nisso que podemos ajudar.

Por isso apresentamos aqui no blog, em primeira mão e em exclusivo, uma amostra de um Plano de Viagem subordinado à temática “Bonsai & Natureza”, que privilegia não só o contacto com estas temáticas mas também experiências de turismo imersivo complementares na cidade de Tokyo e em duas províncias a norte desta (detalhes sob consulta).

primavera em tokyo

Para os que nos seguem já não será novidade esta nossa preocupação em criar conteúdos gratuitos para o blog e também a franqueza com que indicamos quanto é que um viajante que vá por sua própria conta poderá esperar gastar. Acreditamos que todos têm direito a tomar a iniciativa de partir à descoberta, e gostamos de inspirar os mais afoitos. Este Plano também tem em consideração as preocupações por um orçamento acessível, e por isso orgulhamo-nos do resultado. Com este itinerário pode esperar gastar cerca de dois mil euros na sua viagem de 13 dias, e se contar que consegue um voo internacional entre 500 e 600 euros, já se vê que fica uma viagem muito em conta.

Clique abaixo para descarregar o PDF:

amostra plano de viagem_ tema bonsai & natureza_ primavera 2020

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Se desejar mais informações estamos disponíveis por email:

umlongoveraonojapao@gmail.com

Explorar Tokyo sem explorar a carteira

Continuamos a publicar dicas de viagem!

Desta vez através do nosso parceiro: o site japantravel.

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Chegar a Tóquio é, para muitos, nada menos que a concretização de um sonho. Talvez alguns nem se atrevam a realizar esse sonho porque se assustam com os preços praticados no Japão. Sim, com efeito pode gastar-se facilmente o que se tem e o que não se tem por estas bandas… mas não tem obrigatoriamente de ser assim, especialmente se está disposto a fazer concessões.

Neste artigo vou dar-lhe recomendações para desfrutar de um dia em Tóquio tendo como critério manter os gastos no mínimo. Contudo, há uma coisa que não se compromete: a autenticidade da experiência!

(…)

Leia o artigo completo AQUI.

Entrevista a Tiago Espírito Santo, autor do blog Tiago in Tokyo

Tiago Espírito Santo é o autor de um dos melhores blogues sobre portugueses a viver no Japão (um tema que tenho explorado nos últimos anos para fins de investigação académica). O blog “Tiago in Tokyo” é no entanto uma coisa à parte, poética mas ao mesmo tempo com uma dose de concreto que nos desarma, cuidado mas sem o verniz de blogues “de vitrine”, com toneladas de conteúdo e uma visão muito pessoal. Realmente um blogue de viagem, tanto porque a conta como porque a proporciona a quem lê.

Em seguida transcrevo partes da entrevista que fiz ao Tiago em 2011, a qual acabou por não ser integrada em nenhuma publicação mas que ainda assim é um pedaço de leitura e de partilha interessante. Já que a forma de escrever do autor é uma parte importante da sua identidade acabei por não alterar praticamente nada, para além da edição dos excertos.

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Fui para o Japão através do Programa INOV-Contacto. Fui seleccionado para o estágio e na fase de formação ainda em Portugal, quando ainda não se sabem os destinos, lembro- me que tinha 5 destinos preferidos: Austrália, Cabo Verde, Chile, China e Japão. Quando “saiu” o Japão fiquei muito contente com a possibilidade e tinha de a aproveitar.

Em 300 estagiários, fui o único a ser enviado para o Japão e penso que o meu CV influenciou essa opção pois eu lá faço (sic) referencia ao meu fascínio por viagens, choques culturais, experiências exóticas, etc. Posso dizer que me adaptei com muito à vontade à cultura japonesa. Finalmente poderia combinar com amigos e não ser eu o único a chegar a horas… A bolsa era de 9 meses e incluía o transporte e um subsídio mais do que suficiente para a vida em Tóquio.

Tive aí uns dois meses para me preparar antes da ida para o Japão. Em relação ao idioma comecei logo a estudar sozinho… através de livros de bibliotecas, cursos on-line, livros “sacados” da net, etc. E um dia estava eu em Coimbra telefona-me um amigo a dizer-me para eu aparecer no campo de futebol da AAC/OAF, do outro lado do rio, porque estava a ver um treino da Academica dos estudantes e havia um japonês a treinar e uma senhora japonesa a ver o treino com uma bandeira japonesa.E foi assim que fiz os meus primeiros amigos japoneses, Sumiko-san, que vive há muitos anos em Coimbra, e o Kosuke, que estava a estudar português em intercambio. Por coincidência, a Sumiko-san conhecia muito bem uma das senhoras com quem eu iria trabalhar em Toquio (na Agência do AICEP) e, claro, convidei-os para vir jantar a minha casa e foram-me dando uns conselhos sobre a vida em Tóquio.
Comecei logo a ler Wenceslau de Moraes e tudo o que podia sobre o Japão.

Na altura lembro-me que li Wenceslao e um livro chamado Sushi Bar (que não me satisfez muito)… Wenceslao era como uma viagem no tempo, ao Japão antigo. Era fascinante. Sobre, por exemplo, Sushi Bar, eu não queria preparar-me para o choque cultural por isso acho que deixei o livro sem ter terminado o primeiro capítulo. Queria estar virgem de saber o que outros portugueses que tinham ido recentemente ao Japão tinham sentido… Queria descobrir por mim próprio, sem ter observações condicionadas. Ler Wenceslao foi também começar a descobrir a relação antiga entre Portugal e Japão, e como o Japão é um país que obriga a uma certa “conformização” de costumes, ou seja, ou se aceita como se lá vive e se fazem as coisas, ou então é melhor desistir, porque tentar alterar uma cultura milenar tão forte é, arrisco, impossível. É o tal provérbio japonês: “o prego que sobressai, logo será amassado…”

Objectivos a partida… ia absorver ao máximo a cultura, toda a experiência cultural. Lembro-me que estava muito tranquilo com a ida. Parecia-me como um deja-vu muito grande, algo natural que me estava a acontecer na vida.

Sabia que ia trabalhar numa área que não era a minha (formado em Multimédia, ia fazer estudos de mercado para a Embaixada Comercial de Portugal…) e umas das minhas intenções era poder conseguir ter trabalhos mais criativos, o que acabou por se realizar dentro do estágio no AICEP, além de que neste estágio pude trabalhar com pessoas com quem aprendi muito, em termos de metodologia e exigência de trabalho. Enfim, afinal estava no Japão. E eu que sempre fui brioso, estava nas sete quintas…

Queria também conhecer o Japão rural, viajar, conhecer por dentro a cultura, e tudo isso foi acontecendo naturalmente. Até hoje, ainda não conheci uma casa onde me tenha sentido tão em casa como quando vivia no bairro de Kagurazaka, em pleno centro de Tóquio, que parece uma viagem no tempo. Se há imagem que terei guardada na memória até ao fim da vida foi a do dia em que chegando a casa sob uma chuva miudinha, passou por mim na minha rua uma gueixa (só nesse bairro existem em Toquio) caminhando com as sandálias pokkuri e um chapéu de chuva antigo, amarelo, e foi uma imagem mágica que me provocou tamanha adrenalina que mal consegui dormir nessa noite.

Aprendi muito do “gaman-suru”, “ganbatte!”, de lutar sempre e sempre pelo que queremos. Aprendi que se deve pensar bem antes de falar, organizar o pensamento antes de verbalizar. Os japoneses são mestres em pensar antes de fazer. Atingir o perfeccionismo profissional… Também acho que até certo ponto a cultura de manter o ambiente calmo num grupo é saudável, em vez de um ego tentar sobressair e destruir uma equipa.

A simplicidade estética japonesa também me marcou. Acho que é wabisabi? A impermanência das coisas, o minimalismo de menos é mais para chegar ao belo e à paz. E muitas coisas mais… Estar num lugar e vir para outro altera a nossa percepção do lugar onde chegamos. Chegar do Japão a Portugal foi certamente muito diferente de chegar da Colômbia a Portugal, como fiz recentemente. Os dois “Portugais” que encontrei são diferentes.

Lembro-me que cheguei a Portugal no Inverno e era-me muito estranho caminhar nas ruas de Coimbra, de Lisboa… Sentia-me muito estrangeiro, como sempre, aliás, mas mais ainda vindo do Japão. Lembro-me de ter a distância de ver um povo de braços em baixo, triste, pobre e acabrunhado, carregando nos ombros emoções melancólicas e pouco mexido. Voltar a Portugal foi também voltar à falta de pontualidade e desorganização…