Memórias de Morishima Morito

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Foto de Paulo Ramos, Editor.

 

“Pearl Harbor, Lisboa, Tóquio – memórias de um diplomata” é um livro extremamente importante para o estudo das relações internacionais do Jão no período imediatamente anterior e durante a II Guerra Mundial, e consiste na compilação de escritos de um dos diplomatas japoneses mais lúcidos deste período. A somar-se a isso, é o livro que vem definitivamente contribuir para os Estudos Japoneses em Portugal no campo da História Contemporânea, já que Morishima Morito foi também embaixador do Japão em Lisboa entre Setembro de 1942 e o início de 1946.

Esta notável tradução, feita por Yuko Kase, foi editada em Portugal por Paulo Ramos e Laurinda Brandão, sendo um exemplo de perseverança e resiliência, pois (à semelhança de tantos outros livros) o mercado editorial de grande escala não o recebeu. O facto de este livro existir deve-se então à força de vontade da tradutora e dos editores, e a alguns apoios angariados, entre eles o da empresa Toshiba. Pode portanto dizer-se que a existência deste livro reflecte a comunidade nipo-portuguesa e o tecido social e cultural que estes indivíduos têm construído ao longo de mais de meio século.

Como crítica negativa, porventura poderá apontar-se a ausência de notas e referências complementares ao corpo do texto, mas também é certo que o livro não se assume como uma edição crítica. Se disponíveis, estes elementos beneficiariam o entendimento dos episódios, personagens e termos tratados nas memórias, sobretudo na primeira parte, sobre a relação entre o Japão e os Estados Unidos da América.

Apesar disso, este é um livro de fácil leitura, pois o estilo de escrita do próprio Morishima é escorreito, sem contudo cair em simplificações dadas à parcialidade, e ao mesmo tempo evitando a sobre-dosagem de descrições técnicas. O autor revela várias propostas concretas que tanto ele como outros foram apresentando ao governo do seu país e que, ao serem recusadas, levaram à crispação das relações do Japão com a Europa e a América. Com efeito, este é um livro que não poupa críticas à falta de cuidado com que se caminhou para uma situação sem retorno.

O último capítulo do livro, dedicado a uma visão panorâmica sobre a diplomacia japonesa, é particularmente útil aos estudantes e investigadores de Estudos Japoneses e de Relações Internacionais. Nele, o autor faz um resumo do que considera serem as “carências” da diplomacia japonesa: orientação, política nacional em geral, percepção da situação internacional e opinião pública. Diz mesmo que “foi a ausência de todos estes aspectos que conduziu à fraqueza da nossa diplomacia”.

Segundo Morishima Morito “a Guerra do Pacífico, que começou com o Incidente da Manchúria (…) resultou do autoritarismo irreflectido dos militares e da obediência cega dos cidadãos sem uma verdadeira consciência.” Oferece várias hipóteses de explicação para essa posição dos cidadãos, entre elas a de o povo japonês revelar falta de conhecimentos da cultura internacional e inexperiência em lidar com o mundo exterior, fruto da sua situação geográfica e também da política se isolamento seguida na era do shogunato Tokugawa. Contudo, não permite a exoneração de responsabilidades aos políticos, diplomatas e militares, os quais manifestaram uma falta de visão crónica e uma lamentável incompetência no domínio da negociação. Naturalmente, as palavras de Morishima Morito representam a sua visão subjectiva, mas é um testemunho de grande impacto por ter sido escrito logo em 1950 e tendo em vista um público japonês.

Este livro, lançado muito recentemente, entra automaticamente para o nosso programa de estudos japoneses, fazendo doravante parte das obras estudadas no Clube de Leitura e nas aulas de História do Japão. A partir de Setembro, quando for lançado o programa para o próximo ano lectivo, poderá juntar-se ao nosso grupo de alunos e professores e participar na leitura e discussão desta e de outras obras.

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