Cultura & História + Artes & Ofícios – compilação mês de Setembro

Aos domingos, a partir de Setembro, publicam-se pequenos artigos sobre arte, cultura e história do Japão, exclusivos da página de Facebook e do blog, criados por Inês C. Matos (historiadora de arte). No final do mês os artigos são apresentados no blog, em formato de compilação, mas sem os links para vídeos e outros conteúdos audiovisuais (para os ver visite o Facebook de “Um longo Verão no Japão”).

6.9.2015

“Tansu” é uma tipologia de mobiliário específico do Japão. A região mais famosa pela sua produção é Sendai, pelo que por vezes se chama a esses objectos Sendai-Tansu. O “tansu” começou a ser produzido na era Genroku (1688–1704) e, quando comparamos essa cronologia com os eventos do período imediatamente anterior, podemos ver que o estilo deste móvel assemelha-se um pouco aos móveis designados “contadores” que enriquecem as colecções de arte asiática dos museus portugueses.

Tal como o “contador”, que está tão ligado às condições de vida itinerantes (tem pegas, gavetas secretas para a contabilidade dos mercadores, não tem pregos nem ferros por dentro para se adaptar aos climas húmidos e viagens de barco, etc), o “tansu” também tem múltiplas gavetas, pegas laterais, a sua forma compacta e resistente é a de uma caixa, e o material predominante é a madeira. Os primeiros “tansu” assemelhavam-se muito a arcas europeias, com uma ferragem pesada e grande que fechava a tampa da arca, com um tampo plano e com uma forma baixa e larga (ainda sem muitas gavetas). Alguns tinham rodas, como os Nagamochi Kuruma, sendo esta a tipologia que mais se relaciona com a presença dos europeus no sul do Japão uma vez que os Nagamochi Kuruma foram registados como parte do inventário dos bens que existiam em Dejima (uma ilha artificial na costa de Nagasaki, criada para residência dos portugueses e, depois destes abandonarem o Japão, usada para residência dos Holandeses).

Ao longo de período Edo os “tansu” foram refinando o seu estilo, tendo-se tornado mais decorativos no período Meiji – precisamente porque as leis que restringiam a posse de bens sumptuosos foram afrouxadas.

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13.09.2015

“Kokeshi” é o nome pelo qual são conhecidas as peças de artesanato japonês que se parecem com pequenas bonecas de madeira. Na verdade as “kokeshi” não são realmente bonecas, pois não têm braços nem pernas. Trata-se apenas de um cilindro de madeira (por vezes oco) e uma bola como cabeça. A simplicidade da forma e da decoração destas bonecas fez delas um dos encantos do Japão, amadas tanto por japoneses como por turistas.

As “kokeshi” começaram a ser produzidas entre 1600 e 1700 na prefeitura de Miyagi, e supôe-se que a sua associação às termas (onzen) perto de Zaoo se deu quando começaram a vender-se como um “souvenir” regional. A sua popularidade cresceu a partir do final do século XVIII, precisamente devido ao hábito de visitar termas e trazer pequenas peças de arte dos artesãos locais. O aspecto adorável das “kokeshi” veio corresponder à imagem idealizada de uma eterna criança, à memória de ter prazer e divertimento sem culpa, e enfim ao edonismo da sociedade da época.

No entanto o mais provável é que as “kokeshi”, tal como muitos outros objectos de madeira com forma humana (no Japão e noutras culturas) tenha começado por ser um objecto com funções psico-mágicas, associada ao espírito de uma menina desejada ou falecida. A sua pintura floral e as características esteriotipadas da pintura facial parecem sugerir que não representa realmente um ser humano nem uma “boneca” (no sentido de ser um brinquedo) mas sim um objecto simbólico.

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20.09.2015

Hoje vamos conhecer uma técnica artística japonesa chamada Kintsugi. Kintsugi é ao mesmo tempo uma forma de arte e uma estratégia para remendar cerâmica partida. Quando uma peça de cerâmica se partia era hábito usar grampos de metal para voltar a juntar os pedaços, um pouco como funcionam os clips de hoje em dia nas folhas de papel. Contudo no Japão existia também uma substância proveniente da resina de uma árvore que, para além da laca, permitia fabricar uma cola resistente. Assim, começaram a reconstruir as tigelas, potes, vasos e pratos de cerâmica partidos com esta cola resinosa. A cola em si é eficiente, e também resistente à água, mas a peça não parecia finalizada. Então seguiu-se a prática de soprar pó de ouro sobre a substância resinosa (como se fazia na decoração de caixas lacadas), cobrindo assim os riscos entre as partes coladas.

Ao enfatizar a zona onde se deu a ruptura da peça e tornar o “defeito” num ornamento, a peça ganha outro aspecto. A marca de ter sido quebrada não é escondida, em vez disso torna-se num padrão de linhas de ouro, o que dá mais valor ao objecto tanto estética como materialmente. Não temos exactamente a certeza quando é que o Kintsugi começou a fazer-se no Japão mas sabemos que no século XVI já era reconhecida pelos Japoneses como uma técnica específica do seu território, profundamente ligada à estética do budismo zen e a princípios fundamentais da filosofia nipónica tais como “wabi-sabi”.

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27.09.2015 (antecipação)

Aos domingos é tempo para um post sobre arte, cultura e história do Japão.

Tive a sorte de ver uma conferência de Christoffer Bovbjerg no ano passado, logo depois de ele ter concluído o seu doutoramento e fiquei a admirar este especialista de estudos japoneses pela sua abordagem em relação à história do Japão e, de modo geral, pela sua atitude como académico. Recentemente descobri que uma das suas conferências (ainda anterior à que eu vi) está integralmente no youtube. Para quem deseja dedicar-se aos estudos japoneses é imperdivel! Nesta conferência ele fala dos períodos nos quais tradicionalmente se divide a história do Japão e o que caracteriza cada um deles. Mas, e aí está a vantagem, mantêm o espírito crítico em relação ao próprio modo de periodizar a história do Japão. É uma conferência muito interessante e com uma progressão rápida. Deve ter-se em consideração que está gravada sem legendas, em inglês, e infelizmente eu não tive tempo de a legendar para português, mas creio que está acessível a estudantes a partir do ensino superior pois a qualidade do som é boa a a dicção bastante clara.

https://www.youtube.com/watch?v=m0gDqnwJjMQ

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